Um assunto é como uma diferença entre os conceitos de esquerda ou direita, que na essência é uma oposição eminentemente econômica (mais ou menos estado em função de objetivos de igualdade ou liberdade) transbordou para um posicionamento em relação aos costumes (direito das minorias, aborto, orientação sexual etc.) supostamente bem delineada.
O seguinte vídeo, do canal "Plano Piloto", de um jovem youtuber, expõe esse questionamento, de um modo muito mais consciente do que muitos professores universitários.
Respondo essa questão com um tese. Durante quase toda a história da Filosofia o aspecto que teve mais influência no pensamento foi a Religião. Até um certo ponto da história, Filosofia é praticamente uma questão apenas religiosa. As noções de direita e esquerda, como dito no vídeo, tiveram origem na Revolução Francesa e no pensamento de Adam Smith, já misturando noções de liberdade econômica e liberdade individual. Aí veio Marx e o comunismo e complicou as coisas. Por uma razão, talvez contingente (acidental) da história, Marx e Lênin eram ateus. Lênin considerava a religião o "ópio do povo". Essa questão era mais complexa e contraditória para Marx. Mas de forma geral, os dois são ateus e consideravam que a religião era um instrumento de dominação. Esse fato fez com que houvesse uma incompatibilidade entre o pensamento religioso cristão e o marxismo. Isso acabou por forçar uma separação dos costumes: houve uma associação entre a direita e a religião cristã. Assim o pensamento liberal econômico se associou ao conservadorismo de costumes (aborto, conceito tradicional de família etc.). Em reação, os movimentos liberais de costume foram empurrados para a esquerda.
Com o tempo, com o enfraquecimento da influência da religião e a tendência natural do ser humano de diversidade, surgiram pensamentos distintos, como a Teologia da Libertação, que unia o marxismo à religião (simplificando, o reino de Deus já durante a vida). Começaram também a ter correntes associando o pensamento liberal na economia com o pensamento liberal nos costumes, afinal, na verdade, não há nenhuma incompatibilidade entre esses pensamentos.
O que é difícil conciliar, ainda hoje, são questões de costume, como por exemplo, o feminismo com a religião, por causa do aborto. E agora novas questões, como a ideologia de gênero.

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