O livro "Perigosas Pedaladas" de João Villaverde, citando em parte Russell Crandall [1], traça um interessante panorama de alternância do poder na América Latina entre direita e esquerda, motivada por crises econômicas que atingiram a região da mesma forma, provocando reações similares.
Esse movimento de pêndulo é natural já que os governos na América Latina de forma geral não conseguem atender aos anseios da população, fazendo que o povo cansado de uma alternativa opte pela única outra disponível.
Os trechos abaixo abordam a substituição dos diversos governos da América Latina que adotaram políticas liberais nos anos 1990 por governos populistas de esquerda nos anos 2000:
"A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em outubro de 2002 fez também parte de um movimento generalizado na América Latina naquele momento. O pêndulo da história tinha se movido para a esquerda.
Assim como entre o fim dos anos 1980 e o início da década de 1990 todos os países latino-americanos abraçaram as chamadas reformas neoliberais lideradas pelos Estados Unidos e organizadas no documento "Consenso de Washington" (1989-1990), uma década depois, eles foram, um a um, para pontos diametralmente opostos.
(...)
Foram dois episódios fundamentais, em 2001 e em 2002, que ajudaram a sedimentar o caminho para a esquerda na região: a forma como os Estados Unidos trataram a crise da Argentina e, depois, o rápido apoio concedido pelo governo americano ao grupo que aplicou um golpe contra Hugo Chávez, na Venezuela.
Depois que o presidente Bill Clinton liderou grandes operações de resgate bilionárias do FMI para o México, em 1994, e para o Brasil, em 1998, toda a elite argentina e os investidores internacionais esperavam o mesmo em 2001, quando foi a vez da Argentina quebrar por motivos praticamente idênticos.
(...)
Era chegada a hora da Argentina, mas, diferentemente de seu antecessor, o presidente George W. Bush não atendeu com entusiasmo aos apelos dos hermanos. A Argentina quebrou em dezembro de 2001, levando a taxa de desemprego a 25% e a protestos populares generalizados, que culminaram na morte de mais de uma dúzia de pessoas. Diante do caos generalizado, a Argentina elegeu Nestor Kirchner em 2003 e, com ele, uma nova postura em relação aos Estados Unidos e ao pensamento neoliberal foi inaugurada.
No meio da crise argentina, o último movimento: o apoio formal do governo Bush ao golpe malsucedido aplicado contra Hugo Chávez, eleito presidente da Venezuela em 1998. Esse movimento americano terminou elevando a popularidade de Chávez em seu país e na região como um todo. Estava sedimentada a mudança política na região: além de Chávez e Kirchner, foram eleitos Evo Morales (Bolívia) e Rafael Corrêa (Equador), em 2005, e Tabaré Vásquez (Uruguai), em 2006. No México, o populista Lopez Obrador perdeu a eleição presidencial de 2006 por apenas 0,56% dos votos.
No Brasil, Lula foi eleito presidente e sua posse, em janeiro de 2003, significou a entrada no poder federal de toda a geração de esquerda formada na "década perdida" e que passara os anos 1990 em ferrenha oposição às chamadas reformas neoliberais aplicadas por FHC em consonância com os demais presidentes latino-americanos."
Depois de cerca de uma década e meia, o movimento seria revertido, com a chegada ao poder de governos de direita.
Notas
[1] CRANDALL, Russell. "The United States and Latin America after the Cold War", 2008.
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