sábado, 27 de julho de 2019

As improváveis coincidências e acasos que salvaram a Lavajato

A Lavajato é um ponto fora da curva, que só aconteceu por um conjunto enorme de coincidências que permitiram que ela desse certo. Um futuro possível dentre outros muito (mas muito) mais prováveis (se já viu o filme "Vingadores: Ultimato", entenda melhor do que estou falando aqui).

A seguir listamos alguns desses fatos improváveis.

  • Youssef, o doleiro cuja delação revelaria o Petrolão, só foi preso graças a uma improvável coincidência.
Youssef, no dia da operação que o prenderia, viajou de madrugada, algumas horas antes do início da operação, para o Maranhão. Só foi localizado por uma coincidência improvável:

"Um único detalhe chamava atenção: havia sete celulares em sua bolsa. A PF monitorava apenas um. — Se ele tivesse usado qualquer outro celular, nós jamais saberíamos onde ele estava. Podia ter evaporado — disse Igor a Moscardi."
(Fonte: Polícia Federal, A Lei É Para Todos, de  Ana Maria Santos e Carlos Graieb).

  • Paulo Roberto Costa, o delator mais importante da Lavajato, foi preso graças a um presente ganho em um impulso de Youssef.
Por um impulso, Youssef, ao passar em frente a uma concessionária,  acompanhado de Paulo Roberto Costa, parou e comprou um Land Rover para presentear Paulo. A nota fiscal da compra foi enviada para seu e-mail, mas foi emitida em nome de Paulo. O diligente delegado Márcio Anselmo achou o e-mail.

"(...) uma conversa do doleiro com alguém na conta de e-mail paulogoia58@hotmail.com, Youssef havia recebido, de uma concessionária em São Paulo, a nota fiscal de um Land Rover Evoque zero quilômetro. Emitida em 15 de maio de 2013, a nota tinha o valor de 250 mil reais. Mas o carro de luxo não era para Youssef. Ele havia sido registrado em nome de um certo Paulo Roberto Costa."
(Santos, Ana Maria. Polícia Federal: A lei é para todos)

  • Uma falha da Polícia Federal e uma série de coincidências permitiu que a família de Paulo Roberto Costa destruísse provas. Mas eles foram filmados, o que contribui decisivamente para que Paulo acabasse por optar pela colaboração premiada.
"Ele (Paulo) ligou para a filha Arianna e pediu que ela fosse ao seu escritório retirar documentos e dinheiro. Foi um movimento arriscado, uma vez que outra equipe policial cumpria um mandado de busca e apreensão na consultoria Costa Global, que ocupava a sala 913 do edifício Península Office, também na Barra da Tijuca.
(...)
Policiais saindo, as filhas de Paulo Roberto Costa e os respectivos maridos chegando. Entre 8h16 e 9h14, a família do ex-diretor da Petrobras fez um vaivém pelos elevadores, carregando mochilas, sacolas e computadores. Como a polícia descobriu mais tarde, ao retornar e perguntar ao chefe de segurança se algo de estranho havia acontecido no intervalo, toda a movimentação ficou registrada nas câmeras do condomínio — que ainda operavam no horário de verão."
(Fonte: Polícia Federal, A Lei É Para Todos, de  Ana Maria Santos e Carlos Graieb).

  • A morte de Teori em 19/01/2017 deixou a Lavajato sem relator justamento no momento de homologar a colaboração premiada da Odebrecht. Fachin mudou de turma do STF e foi sorteado como o novo relator.
Não é preciso ser gênio para supor que se fossem sorteado como relator da Lavajato Gilmar Mendes, Lewandowski ou Toffoli, o destino da operação poderia ser outro. Havia ainda o risco da relatoria ser assumida por um ministro indicado por Michel Temer. O sorteado acabou sendo Fachin, de longe a melhor opção dentre as cinco possíveis (a outra era Celso de Mello). O sorteio de Fachin foi comemorado pela Lavajato. E pelo povo brasileiro. 

Veja aqui uma matéria sobre o dia que Fachin foi sorteado o novo relator da Lavajato em 02/02/2017. A colaboração premiada da Odebrecht acabou sendo homologada pela própria Carmem Lúcia em 30/01.

PS: Dilma foi a presidente que de longe indicou os melhores ministros para o Supremo: Teori, Fux, Rosa Weber, Barroso e Fachin. Sem eles, a Lavajato não seria a Lavajato.

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