Sempre muito se falou no Brasil do recebimento de doações ocultas, via Caixa 2. Isso acontece porque o custo real da campanha é muito maior do que o declarado oficialmente. Mas como o Brasil está sempre na vanguarda, novas modalidades de Caixa 2 surgiram. Temos agora também a propina via Caixa 1, via Caixa 3, via "Conta corrente da Propina", a "Propina Gordura" e a "Propina Poupança". Mas o que significa tudo isso? Veja a seguir:
Propina via Caixa 1: é o recebimento de propina via doação oficial, quer dizer, com recibo. Quando um político quer receber propina e calha de estar no período eleitoral e ele ser candidato, uma boa maneira de "lavar o dinheiro" é receber a propina via doação oficial. Mas e se o candidato estiver precisando da propina para pagar algum outro compromisso que não da campanha? Sem problemas, basta fazer os pagamentos para uma gráfica ou empresa de fachada. Desse modo o dinheiro pode sair da campanha e ir para onde realmente interessa. E se a empresa confessar que pagou a propina? Sem problema também, basta dizer que as contas da campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. O que praticamente não significa nada, porque a aprovação das contas é feita de modo bem precário.
Propina via Caixa 2: é o recebimento de propina "não contabilizada" no caixa da campanha, sem recibo. Um político nunca vai dizer que quer a propina para si mesmo. É bem mais fácil dizer que é para sua campanha. Mas e se ele não for candidato? Sem problema, a propina é para pagar "dívidas de campanha". Ou é para sua futura campanha.
Propina via Caixa 3: é o recebimento de propina via doação oficial, mas como se a doação fosse de outra empresa e não a que está pagando a propina. O termo surgiu para diferenciar os pagamentos de propina de uma empresa através de doação oficial por outra empresa. Uma empresa pode preferir não pagar a propina diretamente via doação oficial por diversos motivos (já estourou o limite máximo de doação segundo a lei, para não deixar claro para outros políticos o tanto que doou para cada político etc).
Conta corrente da Propina: o político ao fazer jus a uma propina pode não ter interesse de recebê-la imediatamente, seja porque não está em campanha (caso em que pode recebê-la via doação oficial), seja porque o volume de dinheiro é muito alto para ser recebido em espécie (tipicamente, via malas paga-se em torno de quinhentos a um milhão de reais por vez). A solução é a conta corrente da propina. Abre-se uma conta corrente virtual, de conhecimento do corruptor e do corrupto. Quando o político cumpre sua parte, a propina é creditada na conta corrente virtual. Quando o político recebe a propina, seja via Caixas 1, 2, 3 (ver acima) ou de qualquer outra forma, debita-se da conta corrente.
Propina Gordura ou Propina Poupança: é o saldo credor da "Conta Corrente da Propina" (veja acima).
Doação sem Contrapartida via Caixa 2: em teoria, seria uma doação feita por empresa a um político sem nenhuma contrapartida. A empresa quer doar, mas não quer o recibo por uma série de motivos: modéstia, o dinheiro é do Caixa 2 da empresa (quer dizer, é dinheiro de venda de mercadorias ou serviços sem nota), a empresa não quer mostrar para outros candidatos para quem doou de forma tão desinteressada. Como a empresa não quer recibo, o político é forçado, coitado, a correr o risco de não contabilizar a doação, quer dizer, ela entra no "Caixa 2" da campanha. Mesmo que isso fosse verdade, o político passaria a ficar na mão da empresa, já que o recebimento via "Caixa 2" é motivo suficiente para a cassação de sua chapa (a não ser que a chapa seja a Dilma-Temer). A empresa depois pode procurar o político e falar: "lembra daquela doação ilegal via Caixa 2?".
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