O livro "Por que As Nações Fracassam" tem uma parte interessante que nos permite ter um parâmetro dos valores de propinas gastos por regimes corruptos para se sustentarem no poder através da compra de políticos, de membros do judiciário e de órgãos da mídia.
A informação foi possível graças ao organizado braço-direito do ditador peruano Alberto Fujimori:
"Regimes autoritários costumam ter consciência da importância de uma imprensa livre e empenham-se ao máximo para combatê-la. Um exemplo extremo foi o do governo Alberto Fujimori, no Peru. Embora originalmente tenha sido eleito de forma democrática, Fujimori não demorou a instituir um regime ditatorial no Peru, promovendo um golpe enquanto ocupava o cargo, em 1992. A partir de então, embora as eleições prosseguissem, Fujimori construiu um regime corrupto, baseado na repressão e em subornos. Uma peça-chave para tanto era seu braço direito, Valdimiro Montesinos, que encabeçava o poderoso serviço de inteligência peruano. Montesinos, homem organizado, manteve registros completos de quanto a administração pagava a cada indivíduo para comprar sua lealdade, chegando a gravar em vídeo várias situações de suborno. Havia uma lógica em sua atitude. Além do mero histórico, tais evidências lhe garantiam o registro dos atos de seus cúmplices, que seriam assim considerados tão culpados quanto Fujimori e Montesinos. Com a queda do regime, essas gravações caíram nas mãos de jornalistas e autoridades. Os montantes negociados são indicativos do valor da imprensa para uma ditadura. Um juiz da Suprema Corte foi avaliado entre US$5 mil e US$10 mil mensais e políticos, de qualquer partido, recebiam quantias similares. Quando se tratava de jornais ou emissoras de televisão, no entanto, as somas iam para a casa dos milhões. Fujimori e Montesinos desembolsaram US$9 milhões em certa ocasião e mais US$10 milhões em outra a fim de controlar as emissoras de televisão. Pagaram mais de US$1 milhão a um dos principais jornais, e a outros menores pagavam algo entre US$3 mil e US$8 mil por manchete. Para Fujimori e Montesinos, o controle da imprensa era muito mais importante do que o de políticos e juízes. Um dos homens de confiança de Montesinos, General Bello, sintetizou a questão em um dos vídeos, ao afirmar: 'Se não controlarmos a televisão, não fazemos nada.'”
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