O grande problema das reportagens do site Intercept sobre as mensagens vazadas da Lavajato é que o site já tinha uma uma teoria sobre as intenções dos promotores da Lavajato e do juiz Sérgio Moro antes de que as mensagens viessem (parcialmente) a público. Essa teoria não permitia nenhuma zona cinzenta: os promotores da Lavajato, subordinados a Sérgio Moro, desde o início agiram em conluio e politicamente motivados para perseguirem Lula, para afastá-lo da eleição, prejudicando a esquerda em prol da extrema direita. Aparentemente o Intercept ou seus jornalistas mais importantes parecem acreditar na inocência de Lula (ou pelo menos evitam abordar a questão diretamente), que seria vítima de uma perseguição política.
O problema dessa tese é que ela é por demais absoluta e simplista para explicar uma realidade muito complexa. E a vida não é assim, não estamos em um episódio de Guerra nas Estrelas, em que há um "lado negro da força". O Intercept acredita ou quer fazer com que os outros acreditem que essa realidade não admite nuances, que eles estão absolutamente certos e os que assim não entendem estão completamente errados.
Visões por demais absolutas dificilmente se aproximam da verdade e tendem a falseá-la, se não no todo, em boa parte. As pessoas motivadas por um crença de que são "os escolhidos", os "detentores da verdade", acabam por ignorar os fatos que contradizem suas crenças. Um sintoma que isso está acontecendo é quando fatos são distorcidos para se encaixarem à uma teoria. Progressivamente, as interpretações que não se sustentam nos fatos vão se avolumando. Isso pode acontecer até de boa fé, inconscientemente. Mas progressivamente as distorções vão aumentado e deveriam se tornar perceptíveis a qualquer um que mantenha um espírito crítico. O grande Conan Doyle muito bem ilustrou isso pela boca de Sherlock Holmes:
Visões por demais absolutas dificilmente se aproximam da verdade e tendem a falseá-la, se não no todo, em boa parte. As pessoas motivadas por um crença de que são "os escolhidos", os "detentores da verdade", acabam por ignorar os fatos que contradizem suas crenças. Um sintoma que isso está acontecendo é quando fatos são distorcidos para se encaixarem à uma teoria. Progressivamente, as interpretações que não se sustentam nos fatos vão se avolumando. Isso pode acontecer até de boa fé, inconscientemente. Mas progressivamente as distorções vão aumentado e deveriam se tornar perceptíveis a qualquer um que mantenha um espírito crítico. O grande Conan Doyle muito bem ilustrou isso pela boca de Sherlock Holmes:
"É um erro capital teorizar antes de se ter os dados. Insensivelmente, começa-se a distorcer os fatos para adaptá-los às teorias, em vez de fazer com que as teorias se adaptem aos fatos.” (Sherlock Holmes, Um Escândalo na Boêmia).
Em muitos momentos as reportagens do Intercept apresentam conclusões que não se sustentam nos próprios diálogos divulgados, veja aqui. Isso compromete a credibilidade do Intercept e sua tese como um todo. Ela pode estar até correta em parte, mas porque então o site precisa "forçar a barra" diversas vezes para nos convencer?
É possível que, ao longo de um processo de combate à corrupção, a força tarefa de Lavajato tenha cometido ilegalidades (embora seja difícil acreditar que eles falariam disso abertamente em grupos de discussão, se tivessem certeza dessa ilegalidade), que fronteiras tenham sido cruzadas.
É possível que ao longo da operação o juiz Sérgio Moro tenha perdido a imparcialidade, pressionado por um desejo pessoal de justiça e/ou auto-promoção. Como já dito, isso pode até acontecer de forma inconsciente, todo ser humano está sujeito a perder a imparcialidade, na verdade é bem difícil mantê-la quando se está o tendo todo sofrendo pressões, questionamentos, provocações, ofensas, calúnias via imprensa, ouvindo mentiras e até sendo processado por alguns dos réus.
É difícil diante de fatos complexos ter certeza absoluta. A postura mais adequada de quem tem honestidade intelectual é reconhecer a própria incapacidade de saber qual é a verdade absoluta ("só sei que nada sei"), expor as possíveis interpretações da realidade e deixar aos outros que formem sua própria opinião.
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