quinta-feira, 1 de agosto de 2019

As Teorias Sociológicas de Marx, Durkheim e Weber

Até o início do século XIX imperava na Filosofia uma explicação metafísica da sociedade, a concepção de que era o mundo divino ou das ideias que explicava o mundo material. Marx combinou a dialética de Hegel e a alienação religiosa de Feuerbach para propor um novo modo de se entender a realidade. Para ele, é o mundo material que dá origem as ideias e não o contrário (“não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência”[1]). São as relações materiais entre os homens na produção dos bens que o sustentam as bases da sociedade e das ideologias delas derivadas. Nesse processo os homens geram outra espécie de produto que não o material, as normas e costumes que influenciam a vida em sociedade: as ideologias políticas, concepções religiosas, códigos morais e estéticos e os sistemas legais. Essas normas, portanto, não são autônomas. A essas normas Marx deu o nome de superestrutura e às relações materiais o nome de estrutura. O desconhecimento dessa relação entre mundo material e ideal seria a fonte de alienação, bem como a falta da consciência da classe proletária sobre esse processo de apropriação do lucro de seu trabalho pelo capitalista. A esse modo de ver a realidade e a esse método de análise dos fenômenos historicamente produzidos, Marx deu o nome de materialismo dialético.

Por outro lado, não podemos falar de Marx sem mencionar o pensamento de Gramsci, que influenciou a maneira como as ideias de Marx foram recepcionadas na América Latina. Gramsci desenvolveu o conceito de poder sob a ótica da "hegemonia" cultural que as classes dominantes exercem sobre as dominadas. A partir dos conceitos de estrutura e superestrutura de Marx, Gramsci analisou o modo pelo qual se desenvolveriam as ideologias burguesas que conceberiam a nação como um todo orgânico, deixando assim em segundo plano o antagonismo entre as classes burguesas e proletárias. Essa superestrutura cultural se daria através do domínio do sistema educacional, das religiões e da mídia. Segundo Gramsci, para mudar a sociedade era necessário educar o proletariado para que ele adquirisse uma consciência crítica, sendo esse o único caminho para o estabelecimento de uma democracia efetiva capaz de transformar a sociedade. Gramsci acredita que todo indivíduo é intelectual[2], quer dizer, tem capacidade de obter o conhecimento, não devendo, portanto, se submeter a um conhecimento que lhe é exposto exteriormente. Nesse ponto Gramsci ecoa a necessidade de esclarecimento apontada por Kant (“Sapere Aude”).

Já para Durkheim, a sociedade deve ser entendida através da compreensão da origem e funcionamento de suas instituições.  As instituições devem ser estudadas a partir de sua existência própria, dissociada das manifestações individuais das pessoas. Elas condensam a maneira de agir em sociedade, que induz a formação de regras coletivas, que se apresentam como normas jurídicas, morais, dogmas religiosos e sistemas financeiros. Essas regras são a maneira de viver, que se torna obrigatória, sendo independentes e externas ao indivíduo. São imperativas, coagem os membros a aceitá-las e segui-las. São interiorizadas pelos indivíduos a tal ponto que se tornam naturais, de tal modo que essa coerção é muitas vezes não perceptível. No Capitalismo ocorre um processo de forte divisão do trabalho, que poderia levar a uma falta de solidariedade entre seus membros, que não mais se reconheceriam como parte de uma mesma comunidade. Esse problema é resolvido pela interdependência entre os indivíduos de uma sociedade capitalista, que não podem mais viver se os serviços e produtos disponibilizados pelos outros indivíduos. Assim os indivíduos se unem não por suas semelhanças, mas pela interdependência dos membros da sociedade[3]. Os grupos formados por afinidades comportam-se como órgãos de um organismo social.

A partir dos anos 90, o pensamento de Durkheim foi reavaliado, sendo combatida uma visão reducionista que o classifica como mero pensador funcionalista ou conservador.  Seu pensamento, métodos e categorias se tornaram úteis também para o entendimento de questões da modernidade, especialmente na Filosofia e na Moral, e também como alternativa ao paradigma marxista, que enfrenta hoje uma crise para explicar todas as dimensões da sociedade moderna[4]. Essa abordagem moderna da obra de Durkheim ressalta a importância da mudança da Moral de uma sociedade para que seja atingida a noção de Justiça e Igualdade Social.

Weber desenvolveu três tipologias para explicar como se dão as relações de poder em uma sociedade sob a égide do que ele chama de dominação legítima: o poder tradicional, o poder carismático e o poder burocrático-legal. Essas tipologias não são excludentes, quer dizer, em uma mesma sociedade e até em um mesmo indivíduo temos essas três vertentes de poder atuando. Elas nada mais são do que “tipos puros ideais” de dominação, ferramentas para se entender o conceito de poder em sua totalidade. Na prática da sociedade elas coexistem, já que em toda ação social, segundo Weber, temos um feixe de ações de indivíduos que se entrelaçam e se auto-influenciam, sendo o resultado dessa teia de inter-relações o que efetivamente observamos quando analisamos a sociedade.




[1] MARX; ENGELS. A ideologia alemã, p. 25 apud QUINTANEIRO & DE OLIVEIRA BARBOSA & MONTEIRO DE OLIVEIRA, p. 35.
[2] Cf. GRAMSCI, p. 15.
[3] Nota-se aqui uma semelhança dessa visão com o funcionamento de uma colmeia: há uma especialização de atividades (abelha rainha, operárias e zangões), sendo que um membro da colmeia não pode viver sem o outro.
[4] Essa nova abordagem é discutida por Raquel Weiss, doutora em Filosofia pela USP, especialista em Émile Durkheim. Para ilustrá-la, ver entrevista para a Univesp TV, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=BeK3FDE_Iy0, publicada em 28/01/2016.

Bibliografia

GRAMSCI, Antonio. Concepção Dialética da História. Civilização Brasileira: 1978, 3ª. edição.

QUINTANEIRO, Tania & DE OLIVEIRA BARBOSA, Maria Ligia & MONTEIRO DE OLIVEIRA, Márcia Gardênia. Um Toque de clássicos – Marx/Durkheim/Weber. Editora UFMG, 2003.

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