Até o início do século XIX imperava na Filosofia uma explicação metafísica da sociedade, a concepção de que era o mundo divino ou das ideias que explicava o mundo material. Marx combinou a dialética de Hegel e a alienação religiosa de Feuerbach para propor um novo modo de se entender a realidade. Para ele, é o mundo material que dá origem as ideias e não o contrário (“não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência”[1]). São as relações materiais entre os homens na produção dos bens que o sustentam as bases da sociedade e das ideologias delas derivadas. Nesse processo os homens geram outra espécie de produto que não o material, as normas e costumes que influenciam a vida em sociedade: as ideologias políticas, concepções religiosas, códigos morais e estéticos e os sistemas legais. Essas normas, portanto, não são autônomas. A essas normas Marx deu o nome de superestrutura e às relações materiais o nome de estrutura. O desconhecimento dessa relação entre mundo material e ideal seria a fonte de alienação, bem como a falta da consciência da classe proletária sobre esse processo de apropriação do lucro de seu trabalho pelo capitalista. A esse modo de ver a realidade e a esse método de análise dos fenômenos historicamente produzidos, Marx deu o nome de materialismo dialético.
Por outro lado, não podemos falar de Marx sem mencionar o
pensamento de Gramsci, que influenciou a maneira como as ideias de Marx foram recepcionadas
na América Latina. Gramsci desenvolveu o conceito de poder sob a ótica da
"hegemonia" cultural que as classes dominantes exercem sobre as
dominadas. A partir dos conceitos de estrutura e superestrutura de Marx,
Gramsci analisou o modo pelo qual se desenvolveriam as ideologias burguesas que
conceberiam a nação como um todo orgânico, deixando assim em segundo plano o
antagonismo entre as classes burguesas e proletárias. Essa superestrutura
cultural se daria através do domínio do sistema educacional, das religiões e da
mídia. Segundo Gramsci, para mudar a sociedade era necessário educar o
proletariado para que ele adquirisse uma consciência crítica, sendo esse o
único caminho para o estabelecimento de uma democracia efetiva capaz de
transformar a sociedade. Gramsci acredita que todo indivíduo é intelectual[2], quer dizer, tem
capacidade de obter o conhecimento, não devendo, portanto, se submeter a um
conhecimento que lhe é exposto exteriormente. Nesse ponto Gramsci ecoa a
necessidade de esclarecimento apontada por Kant (“Sapere Aude”).
Já para Durkheim, a sociedade deve ser entendida através da
compreensão da origem e funcionamento de suas instituições. As instituições devem ser estudadas a partir
de sua existência própria, dissociada das manifestações individuais das pessoas.
Elas condensam a maneira de agir em sociedade, que induz a formação de regras
coletivas, que se apresentam como normas jurídicas, morais, dogmas religiosos e
sistemas financeiros. Essas regras são a maneira de viver, que se torna
obrigatória, sendo independentes e externas ao indivíduo. São imperativas,
coagem os membros a aceitá-las e segui-las. São interiorizadas pelos indivíduos
a tal ponto que se tornam naturais, de tal modo que essa coerção é muitas vezes
não perceptível. No Capitalismo ocorre um processo de forte divisão do
trabalho, que poderia levar a uma falta de solidariedade entre seus membros,
que não mais se reconheceriam como parte de uma mesma comunidade. Esse problema
é resolvido pela interdependência entre os indivíduos de uma sociedade
capitalista, que não podem mais viver se os serviços e produtos
disponibilizados pelos outros indivíduos. Assim os indivíduos se unem não por
suas semelhanças, mas pela interdependência dos membros da sociedade[3]. Os grupos formados por
afinidades comportam-se como órgãos de um organismo social.
A partir dos anos 90, o pensamento de Durkheim foi reavaliado,
sendo combatida uma visão reducionista que o classifica como mero pensador
funcionalista ou conservador. Seu
pensamento, métodos e categorias se tornaram úteis também para o entendimento
de questões da modernidade, especialmente na Filosofia e na Moral, e também
como alternativa ao paradigma marxista, que enfrenta hoje uma crise para
explicar todas as dimensões da sociedade moderna[4]. Essa abordagem moderna da
obra de Durkheim ressalta a importância da mudança da Moral de uma sociedade
para que seja atingida a noção de Justiça e Igualdade Social.
Weber desenvolveu três tipologias para explicar como se dão as
relações de poder em uma sociedade sob a égide do que ele chama de dominação
legítima: o poder tradicional, o poder carismático e o poder burocrático-legal.
Essas tipologias não são excludentes, quer dizer, em uma mesma sociedade e até
em um mesmo indivíduo temos essas três vertentes de poder atuando. Elas nada
mais são do que “tipos puros ideais” de dominação, ferramentas para se entender
o conceito de poder em sua totalidade. Na prática da sociedade elas coexistem,
já que em toda ação social, segundo Weber, temos um feixe de ações de
indivíduos que se entrelaçam e se auto-influenciam, sendo o resultado dessa
teia de inter-relações o que efetivamente observamos quando analisamos a
sociedade.
[1] MARX;
ENGELS. A ideologia alemã, p. 25 apud QUINTANEIRO & DE OLIVEIRA BARBOSA
& MONTEIRO DE OLIVEIRA, p. 35.
[2]
Cf. GRAMSCI, p. 15.
[3]
Nota-se aqui uma semelhança dessa visão com o funcionamento de uma colmeia: há
uma especialização de atividades (abelha rainha, operárias e zangões), sendo
que um membro da colmeia não pode viver sem o outro.
[4]
Essa nova abordagem é discutida por Raquel Weiss, doutora em Filosofia pela
USP, especialista em Émile Durkheim. Para ilustrá-la, ver entrevista para a
Univesp TV, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=BeK3FDE_Iy0,
publicada em 28/01/2016.
Bibliografia
GRAMSCI, Antonio. Concepção
Dialética da História. Civilização Brasileira: 1978, 3ª. edição.
QUINTANEIRO, Tania & DE OLIVEIRA BARBOSA, Maria Ligia
& MONTEIRO DE OLIVEIRA, Márcia Gardênia. Um Toque de clássicos – Marx/Durkheim/Weber. Editora UFMG, 2003.
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