Daron e Robinson, autores de "Por que as Nações Fracassam?", acreditam que, até o momento, os regimes democráticos da América Latina não foram capazes de desenvolverem instituições inclusivas, predominando o domínio do Estado por instituições extrativistas, oligárquicas. As raízes desse fenômeno são explicadas por dois fatores: em primeiro lugar, “a persistência, por séculos, das desigualdades sob regimes extrativistas leva os eleitores nas democracias emergentes a votarem em favor de políticos com programas radicais”[1]. E, em segundo lugar, a presença de instituições extrativistas torna a política favorável e proveitosa para políticos populares (e corruptos) em “detrimento de um sistema partidário eficaz na produção de alternativas desejáveis em termos sociais”[2].
Passando agora à realidade brasileira contemporânea, é difícil
negar que o Brasil parece não ter logrado se distanciar tanto assim do que observaram Acemoglu e Robinson para a América Latina de forma geral. No Brasil, assim como em toda a América Latina, o desenvolvimento industrial se deu com atraso, de modo que não de desenvolveu aqui uma burguesia industrial verdadeiramente capitalista. Assim, temos na sociedade brasileira um Estado que, apesar de grandes avanços, é ainda predominantemente patrimonialista, voltado para os interesses de uma elite oligárquica extrativista. O capitalismo brasileiro ainda é muito dependente do Estado, sendo comum aqui a socialização dos prejuízos e a privatização dos lucros.
Nos últimos dez anos, a principal força política no Brasil foi o Partido dos Trabalhadores (PT). No Brasil as ideias de Marx foram recepcionadas via Gramsci[3] pelos partidos de esquerda, especialmente pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em um primeiro momento, para justificar a necessidade de se chegar ao poder através da participação democrática. Contudo, essa visão pragmática foi, pouco a pouco, aceita pelo PT e seus afiliados, por imposição de sua cúpula, como justificativa para um conjunto de alianças com uma grande parte da oligarquia extrativista brasileira. Os ideais originais da fundação do partido foram substituídos pelos interesses imediatos de chegada ao poder e sua manutenção. Essa opção foi chancelada por uma importante parte da sociedade brasileira, especialmente pela intelectualidade, que deixou de apontar as contradições crescentes dessa opção. Assim, uma moral pragmática se impôs sob uma moral verdadeiramente republicana. Por esse processo, uma concepção de luta de classes que, certa ou errada, pregava uma política mais voltada aos interesses do proletariado do que aos interesses de uma burguesia, foi adaptada para uma política de desenvolvimento dos chamados “campeões nacionais”, grandes financiadores de campanhas eleitorais, de forma legal e ilegal, e de compra de apoio político através do loteamento da máquina pública, loteamento esse que rapidamente degringolou para práticas imorais e criminosas.
Os sucessivos escândalos na sociedade brasileira, em especial os casos Banestado, Satiagraha, Castelo de Areia, Mensalão (do PSDB e do PT) e o Petrolão, acabaram por desnudar a associação das cúpulas partidárias dos principais partidos brasileiros, PT, PSDB, (P)MDB e PP (filho do PDS e neto da Arena), com a oligarquia extrativista brasileira.
Apesar dos fatos que vieram à tona a partir de 2014, graças à Operação Lavajato, a sociedade brasileira foi incapaz de gerar, até esse momento, uma alternativa política eleitoralmente viável que não estivesse envolvida em escândalos de corrupção e que não tivesse um viés antidemocrático. A consequência disso foi, mais uma vez, a aposta em soluções populistas, com a recente eleição, em 2018, de um político sem tradição e sem estrutura partidária.
[1]
Cf. ACEMOGLU & ROBINSON, p. 346.
[2]
Cf. ACEMOGLU & ROBINSON, p. 356.
[3] Esse é o entendimento do sociólogo Ruy Braga, especialista em Antonio Gramsci. Para ilustrá-la, ver entrevista dada para a TV Boi Tempo, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=a7A2vD7isOw, publicada em 30/03/2017.
Bibliografia
ACEMOGLU, Daron & ROBINSON, James. Por Que as Nações Fracassam? Elsevier Editora Ltda: 2012.
[3] Esse é o entendimento do sociólogo Ruy Braga, especialista em Antonio Gramsci. Para ilustrá-la, ver entrevista dada para a TV Boi Tempo, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=a7A2vD7isOw, publicada em 30/03/2017.
Bibliografia
ACEMOGLU, Daron & ROBINSON, James. Por Que as Nações Fracassam? Elsevier Editora Ltda: 2012.
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