segunda-feira, 30 de maio de 2016

A Operação "Mãos Limpas" Italiana

Uma investigação sobre um crime menor, lideradas por uma nova geração de corajosos promotores e juízes, graças ao apoio da opinião pública e delações dos envolvidos, desvenda uma complexa rede de corrupção, envolvendo os principais empresários e políticos do país, revelando que o pagamento de propina para concessão de obras públicas era regra e não exceção. Um dos casos mais notórios descobertos envolve uma petrolífera estatal. Conforme confissão de um de seus diretores, o gigante estatal teria efetuado pagamentos mensais aos principais partidos políticos durante anos, se tornando uma fonte de financiamento ilegal para os partidos. As investigações revelaram o envolvimento do principal líder de esquerda do país e dos dois principais partidos políticos que se alternavam no poder. 

A primeira vista podemos pensar que estamos falando no Brasil e da operação Lava Jato. Mas não, o país é a Itália e a operação é a “Mani Pulite” (mãos limpas).
Os dois partidos que mencionamos eram a Democracia-Cristã (DC), de direita, e o Partido Comunista (PC), de esquerda. O líder esquerdista era Bettino Craxi. A petrolífera italiana era a ENI (Ente Nazionale Idrocarburi). A investigação iniciou-se em fevereiro de 1992, com a prisão de Mario Chiesa, que ocupava o cargo de diretor de instituição filantrópica de Milão. Sua prisão e colaboração (delação) gerou um círculo virtuoso, que levou a novas investigações, com outras prisões e confissões. Dois anos após, 2.993 mandados de prisão haviam sido expedidos; 6.059 pessoas estavam sob investigação, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores locais e 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido primeiros-ministros. Dez suspeitos cometeram suicídio, entre eles o diretor da petrolífera que fez a delação, Gabriele Cagliari, suicídio que teria acontecido na prisão. 


No Brasil felizmente não corremos esse risco, porque a cultura brasileira não deixa nenhum corrupto com crise de consciência tão grande que o leve ao suicídio.

Infelizmente para os italianos a história não terminou bem. Políticos foram presos ou perderam o poder, Bettino Craxi se exilou. Mas a classe política reagiu e conseguiu aprovar leis para limitar o combate à corrupção.

Com o fim da carreira politica dos principais envolvidos, Silvio Berlusconi, magnata da mídia e um dos investigados, acabou emergindo como líder politico, chegando ao cargo de primeiro-ministro da Itália. Esteve quase sempre no poder desde 10 de maio de 1994, chegando ao cargo de primeiro-ministro três vezes. Em 2011, desgastado por denúncias de corrupção e até escândalos sexuais, renunciou ao poder. Em 2015, um tribunal de Nápoles condenou Silvio Berlusconi a três anos de prisão por corrupção de um senador, mas a pena que não pôde ser aplicada já que o delito prescrevia no outono de 2015, antes de um eventual julgamento em sede de recurso.

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