quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A Incapacidade da América Latina de Fomentar Instituições Políticas ou Econômicas Inclusivas

O livro "Por Que As Nações Fracassam?" é o fruto de quinze anos de trabalho dos autores, professores de Harvard. Sua principal tese é a de que somente países com um certo tipo de instituições (chamadas de inclusivas) podem promover o progresso de uma nação. 

O seguinte trecho discute a incapacidade da América Latina de fomentar instituições políticas ou econômicas inclusivas por meio do processo eleitoral:

"Essa incapacidade de fomentar instituições políticas ou econômicas inclusivas por meio do processo eleitoral é típica da América Latina. Na Colômbia, os paramilitares conseguem definir um terço dos resultados das eleições nacionais. Na Venezuela de hoje, como na Argentina, o governo democraticamente eleito de Hugo Chávez investe contra seus opositores, demite-os de cargos no setor público, fecha jornais cujos editoriais contrariem seus interesses e expropria propriedades. Chávez é muito mais poderoso e encontra muito menos empecilhos do que Sir Robert Walpole, com sua tentativa malograda de condenar John Huntridge sob a Lei Negra (páginas 235-239), na Grã-Bretanha da década de 1720. Huntridge não teria se dado tão bem na Venezuela ou na Argentina de hoje.

Por mais que a democracia que emerge na América Latina seja em princípio diametralmente oposta ao predomínio das elites, e tanto em sua retórica quanto em seus atos procure promover uma redistribuição dos direitos e oportunidades detidos por pelo menos um segmento da elite, seus fundamentos encontram-se firmemente arraigados em regimes extrativistas, em dois sentidos. Em primeiro lugar, a persistência, por séculos, das desigualdades sob regimes extrativistas leva os eleitores nas democracias emergentes a votar em favor de políticos com programas radicais. Não que os argentinos não passem de uns ingênuos que acreditam piamente que Juan Perón ou os políticos peronistas mais recentes como Menem ou os Kirchners sejam altruístas preocupados tão somente com os interesses do país, ou que os venezuelanos vejam em Chávez a sua salvação. Pelo contrário, não poucos argentinos e venezuelanos reconhecem que todos os demais políticos e partidos mostraram-se por muito tempo incapazes de lhes dar voz, proporcionar-lhes os serviços públicos mais básicos, como estradas e educação, e protegê-los da exploração por parte das elites locais.
Muitos venezuelanos hoje apoiam as políticas adotadas por Chávez, ainda que venham acompanhadas de corrupção e desperdício, do mesmo modo como muitos argentinos apoiaram as políticas de Perón nas décadas de 1940 e 1970. Em segundo lugar, mais uma vez são as instituições extrativistas subjacentes que tornam a política tão favorável e proveitosa para homens fortes como Perón e Chávez, em vez de constituir um sistema partidário eficaz na produção de alternativas desejáveis em termos sociais. Perón, Chávez e dezenas de outros homens fortes latino-americanos não passam de mais um aspecto da lei de ferro da oligarquia – e, como o nome indica, as raízes dessa lei encontram-se no controle subliminar do regime pelas elites."

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